Inatismo e empirismo - Polêmica na educação e ciência I
O progresso científico decorre não só de descobertas
importantes, mas principalmente do esforço sistemático para interpretar os
fenômenos. Como a criação científica é metódica, mesmo as descobertas feitas
por acaso têm antecedentes que se apoiam na metodologia científica, pois o
acaso só pode ser fecundo se o pesquisador estiver preparado para explorá-lo.
O método é o caminho ordenado e
metódico, a orientação fundamental para se chegar a um fim e técnica, é a forma
de aplicação do método. Representa a maneira de atingir um propósito bem
definido. Tem-se então o método como estratégia e as técnicas como táticas necessárias
para se operacionalizar a estratégia.
Neste contexto, configura-se a
polêmica inatismo “versus” empirismo. Ou seja, as pessoas nascem com o
conhecimento e educação deve contribuir para trazê-lo a lume; ou, pelo inverso,
a pessoa é “tabula rasa” e educação deve redigir o conhecimento? Platão
“versus” Aristóteles; São Agostinho “versus” São Tomás de Aquino.
O objetivo primordial de todo o
conhecimento é aproximar o homem dos fenômenos naturais e humanos por meio da
compreensão e do domínio dos mecanismos que os regem. Essa aproximação não
requer formulações prévias de nenhum tipo, pois os estímulos externos chegam à
mente humana por meio dos sentidos e o acúmulo de experiências sensoriais e
intelectuais supõe por si mesmo um certo grau de conhecimento de cada
indivíduo.
A assimilação indiscriminada de
percepções pode gerar erros de interpretação, lapsos e captação insuficiente
das informações recebidas. Por isso, a ciência precisa estabelecer regras que
ajudem a classificar, registrar e interpretar os dados da percepção, o que
garante ao mesmo tempo economia de tempo e um sistema de transmissão racional
do saber entre as gerações.
As raízes da polêmica inatismo e
empirismo situam-se na Grécia clássica, com o nascimento da dialética, que se
apresentava como método de pesquisa e busca da verdade por meio da formulação
adequada de perguntas e respostas. A primeira pergunta relaciona-se à definição
do tema do diálogo, ou debate.
A abordagem dos gregos não
sofreram grandes modificações no Ocidente até o século XVII, quando o saber
científico acumulado exigiu uma revisão da metodologia. As influências das
ideias humanísticas do Renascimento que compreendiam o homem como ser criador e
investigador do Cosmo, viram-se plasmadas no método dedutivo, inaugurado por
Galileu (2).
Este estabeleceu um novo método
para a ciência natural ao combinar o uso da linguagem matemática na construção
das teorias, com o recurso aos experimentos que permitem comprovar
empiricamente as hipóteses científicas. Segundo seus postulados, a partir da
construção de hipóteses, o método científico deve obter uma lei geral, de
preferência expressa em linguagem matemática, que permita, além da compreensão
dos fatos, prever o comportamento futuro de um sistema físico sob condições
conhecidas.
Ainda durante o século XVII, o
inglês Francis Bacon (3) defendeu o método indutivo na
ciência experimental, segundo o qual as leis gerais que regem os fenômenos
particulares podem ser estabelecidas a partir da observação e repetição das
regularidades dos fenômenos particulares.
As proposições aparentemente
opostas de Bacon e Galileu se sustentavam em princípios análogos, ao aceitar a
experiência como fonte primitiva do saber, o raciocínio como mecanismo de
estudo e os fenômenos naturais como fatos determinados e reconhecíveis a partir
da observação.
1 Pós-Doutor pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC); Especialista em Gestão Educacional, em Psicopedagogia e em
Supervisão, Orientação e Administração Escolar; Reitor da Universidade Alto
Vale do Rio do Peixe (UNIARP); Advogado (OAB/SC nº 4912), Administrador (CRA/SC
nº 21.651) e Jornalista (MTE/SC nº 4155).
2 Galileu Galilei,
(1564-1642).físico e astrônomo italiano. Inaugurou nova fase na história da
ciência ao defender o racionalismo matemático como base do pensamento
científico.
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