Entrevista/Reinhold
Stephanes
O blog Osni R. Mello participou da entrevista coletiva com o
renomado economista e o ex-ministro da agricultura Reinhold Stephanes, que
esteve em Caçador para Participar do Seminário de Administração – SEAD 2012.
Stephanes que se formou em economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
em 1963 e especializou-se em Desenvolvimento Econômico pela CEPAL/ONU no mesmo
ano.
Em 1966 concluiu especialização
em Administração Pública na Alemanha. Sempre empenhado em tratar temas que
contribuam para a construção de um Brasil promissor, suas ideias e projetos
refletem a preocupação do homem que conhece e vive a realidade. Acompanhe a entrevista
na integra.
O que o Brasil
precisa fazer para produzir com sustentabilidade?
Nos precisamos definir como podemos produzir e onde produzir
com muita clareza. Descobrir o equilíbrio entre produzir e preservar e o que é
produzir com sustentabilidade. Desmatando o mínimo possível, reaproveitado
áreas já existentes, recuperando áreas degradadas e semidegradadas; Utilizar o
sistema de plantio direto - plantar sem revolver a terra porque com isso você
esta tornando a agricultura altamente sustentável, como esta sendo feito com a
soja, milho, trigo e pode avançar muito; Fazer a fixação do nitrogênio no solo
através de bactérias que retiram do ar, sem nitrogenar o solo artificialmente
através de fertilizantes; Combinar pecuária, agricultura e floresta. Todas
tecnologias já existentes que podem ser praticadas, algumas em uma escala
razoável outras em escala menor, mas que se pode adotar isso em um nível maior.
Quem pode fornecer
tecnologia para alcançar a sustentabilidade?
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem
um setor chamado: Embrapa Meio Ambiente, que é uma empresa dentro da
organização, que tem 50 especialistas ou cientistas em sustentabilidade. Então
a tecnologia existe, e ela é até bastante lucrativa para quem a utiliza.
Como está o Brasil nesta
questão da sustentabilidade?
Primeiro precisamos definir uma questão: O Brasil, dentro de
um grupo de países com certa dimensão e importância, é o país mais ecológico do
mundo. E basta um dado para se comparar: O Brasil tem 65% das suas florestas
nativas preservadas. A Europa, a terra do Greenpeace, tem menos de 1%. O Brasil
tem mais de 50% da sua matriz energética de fontes limpas, os países que mais
se aproximam tem 13%. Sob todos os ângulos que se observar não há comparação
entre o nível de sustentabilidade que o Brasil tem em relação a praticamente
todos os outros países. Quer outro dado, 80% dos gases de efeito estufa são
emitidos por: EUA, Europa, Japão e China e o Brasil entra lateralmente neste
debate, salvo alguns ambientalistas que pensam diferente, mas que não entendem
de meio ambiente. Na ordem de poluidores do mundo o Brasil é o 18º, então de
maneira geral o Brasil esta bem situado.
E a região Sul, Santa
Catarina e a nossa região em relação ao restante do Brasil?
O sul tem certa identidade, de São Paulo para baixo e parte
de Minas Gerais tem mais ou menos a mesma estrutura de sustentabilidade e
dentro destes estados é claro que Santa Catarina se situa melhor do que Paraná,
que tem 92% da sua área ocupada com agricultura. Floresta original o Paraná tem
muito pouco, já Santa Catarina tem ainda entre 30% e 35% de mata nativa, até
pelo revelo quebrado. Mas isso não significa dizer que SC é mais sustentável
que o Paraná e Rio Grande do Sul. O fato de você fazer agricultura com as
tecnologias corretas, como plantio direto e não revolver o solo garante que a
mesma emissão de gases na hora do plantio é captada na produção e você tem um
equilíbrio. Então eu diria que mesmo sendo áreas muito produtivas são
consideradas razoavelmente sustentáveis, é claro que não podemos comparar com o
estado do Amazonas, que sozinho é maior que toda esta área que estamos falando
e tem quase toda sua floresta preservada.
O novo Código Ambiental
vai melhorar a questão da sustentabilidade da agricultura?
Você pode raciocinar de várias formas. Quando eu estou
falando de gases de efeito estufa é uma coisa, quando estou falando de
biodiversidade é outra coisa. Os nossos ecologistas misturam muitos as duas
coisas. Então eles dizem o seguinte: um rio precisa para sua proteção de uma
margem de 30 a 500 metros, que é o que esta definido no código em vigor. Mas
precisa de 500 metros para que? Para manter o rio limpo? Não, é por causa de um
corredor de biodiversidade, então você já esta falando de outro assunto. Você
não está falando de sustentabilidade, mas de biodiversidade. Não, eu não quero
emitir gases de efeito estufa, é outro tipo de discussão. Eu tenho esta área e
quero produzir com o máximo de sustentabilidade, que tecnologias eu devo utilizar.
Sustentabilidade significa não degradar o solo, não poluir os rios e não emitir
gases de efeito estufa além de um limite considerado razoável. Este código não
fala em plantar com sustentabilidade. Este código basicamente se refere à
proteção de margens de rios e nascentes e proteção de florestas, o debate
basicamente define isto. O código não diz que a agricultura deve utilizar uma
tecnologia adequada para evitar a perda de solo, o código não trata deste tipo
de sustentabilidade.
Qual o código teria
mais viabilidade. O dos ruralistas ou o dos ambientalistas?
É um pouco difícil porque você tem dentro da bancada
ruralistas, que eu acho um nome inadequado, todas as correntes de pensamentos
possíveis. Desde os radicais que acham que precisa plantar em tudo para
produzir comida e tem os moderados que querem produzir com sustentabilidade. Da
mesma forma nos ambientalistas. Quando você se depara com líder dos
ambientalistas, sendo o filho do José Sarney (Sarney Filho), da vontade de
pegar o chapéu e ir para casa. Por todas as razões que vocês conhecem e as que
não conhecem, mas a gente conhece: esse cara nunca plantou um pé de árvore na
vida. Imagina o (Carlos) Minc, um homem que nasceu na praia, viveu na praia,
nunca saiu do Rio de Janeiro, que tem toda uma história que ta mais para um hippie
que para outra coisa, virou ministro do meio ambiente do Brasil.
Quem pode emitir
opinião sobre sustentabilidade?
Então se tem de um lado tem do outro lado, mas tem no meio
disto um negócio chamado ciência, e dentro da ciência tem um negócio chamado
Academia Brasileira de Ciência, na qual eu não confio porque ali se discute
mais ideologia que ciência - porque quando você fala em Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC) tem mais estudantes que professores
presentes nas reuniões. Agora quando eu falo em ciência, em sustentabilidade eu
falo em 50 doutores, pós-doutorados, ou no mínimo mestrados, da Embrapa, que
estudam 24 horas por dia ciência e sustentabilidade e que não estão preocupados
com ideologias, ruralistas, estão preocupados com a sustentabilidade. Então o
meu pensamento, o que eu coloco a público, tem mais esta visão científica. Eu
não dou uma opinião sobre um assunto que eu não possa garantir que ela vai ter
o apoio de uma instituição científica que efetivamente trata do assunto.
E qual o melhor
código?
Com o que estava em vigor, você expulsaria do campo 1 milhão
de pequenos agricultores. E este é um dado real, um dado que ninguém contestou
até hoje. Ora, nem um país vai pegar um milhão de famílias e tirar a
propriedade, isso não existe. Até porque não são eles que estão poluindo os
rios. O Rio Iguaçu é poluído porque o esgoto de Curitiba vai para o rio. A baia
de Copacabana é poluída e o mar e poluído porque o esgoto de 9 milhões de
pessoas vão para o interceptor submarino oceânico. E você vê algum artista de
televisão falar nisso, não, mas se vê artista, que não entende nada de meio
ambiente, pedindo: “veta Dilma”. É uma discussão difícil. O atual código era
completamente inadequado, tanto que Santa Catarina, o único que adotou esta
medida, se insubordinou ao código nacional e fez o seu próprio código. Porque
estava chegando num ponto crítico e o estado não podia expulsar os seus
agricultores da terra. O Paraná perderia, se aplicado o código anterior, 15
milhões de toneladas de produção. O Mato Grosso perderia 300 mil empregos,
enfim o código estava completamente fora de qualquer base técnico científica,
por que tinha sido elaborado por pessoas leigas no assunto.
O campo está
envelhecendo, tem algum projeto ou iniciativa para mudar esta realidade?
A realidade muda à medida que você traz qualidade de vida e
valoriza o trabalho do homem do campo. Eu nasci aqui em Santa Catarina, meus
avós são aqui de Calmon, mas onde o meu pai trabalhava era uma pequena
propriedade e eu praticamente me criei no cabo da enxada, com oito para nove
anos já estava na enxada ajudando meu pai e minha mãe. Era considerado Colono,
que na época era uma palavra depreciativa. Hoje se está em outro patamar e a agricultura
já passa por uma valorização muito grande. Eu fui dar uma palestra em Lucas do
Rio Verde (Goiás) e tinha 400 agricultores na palestra, 200 chegaram lá de
camionete. Então a agricultura esta dando retorno esta dando dinheiro. Eu
também fui ao Piauí, onde tem agricultores e áreas extraordinárias de produção.
Eram 100 famílias e na hora da reunião tinham 75 camionetes. O que achei ótimo,
sinal que está dando dinheiro. Eu já visitei propriedades no Paraná com três
filhos, onde dois estavam na faculdade e outro no ensino médio. Então a medida
que se da condições para o agricultor, que leva a luz elétrica, escolas, que
ele tenha qualidade de vida e a medida que sua produção traz retorno financeiro
ele fica na terra. Também tem outra situação. Os alimentos estão subindo acima
da inflação, vai doer no bolso do consumidor, mas valoriza quem produz e medida
que se valoriza quem produz, fixa o homem no campo. A agricultura é o único
setor que cresceu em média nos últimos 20 anos 4% ao ano, enquanto a economia, de
maneira geral, cresceu 1% no último ano e em raros momentos cresceu mais que
isso. Então a agricultura esta bem e vai continuar produzindo e dando
oportunidades para os jovens, porque passou a ser um negócio importante, um bom
negócio e o jovem não vai se não for um bom negócio.
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