segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Entrevistas


Entrevista/Reinhold Stephanes


O blog Osni R. Mello participou da entrevista coletiva com o renomado economista e o ex-ministro da agricultura Reinhold Stephanes, que esteve em Caçador para Participar do Seminário de Administração – SEAD 2012. Stephanes que se formou em economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1963 e especializou-se em Desenvolvimento Econômico pela CEPAL/ONU no mesmo ano.
Em 1966 concluiu especialização em Administração Pública na Alemanha. Sempre empenhado em tratar temas que contribuam para a construção de um Brasil promissor, suas ideias e projetos refletem a preocupação do homem que conhece e vive a realidade. Acompanhe a entrevista na integra.


O que o Brasil precisa fazer para produzir com sustentabilidade?

Nos precisamos definir como podemos produzir e onde produzir com muita clareza. Descobrir o equilíbrio entre produzir e preservar e o que é produzir com sustentabilidade. Desmatando o mínimo possível, reaproveitado áreas já existentes, recuperando áreas degradadas e semidegradadas; Utilizar o sistema de plantio direto - plantar sem revolver a terra porque com isso você esta tornando a agricultura altamente sustentável, como esta sendo feito com a soja, milho, trigo e pode avançar muito; Fazer a fixação do nitrogênio no solo através de bactérias que retiram do ar, sem nitrogenar o solo artificialmente através de fertilizantes; Combinar pecuária, agricultura e floresta. Todas tecnologias já existentes que podem ser praticadas, algumas em uma escala razoável outras em escala menor, mas que se pode adotar isso em um nível maior.


Quem pode fornecer tecnologia para alcançar a sustentabilidade?

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem um setor chamado: Embrapa Meio Ambiente, que é uma empresa dentro da organização, que tem 50 especialistas ou cientistas em sustentabilidade. Então a tecnologia existe, e ela é até bastante lucrativa para quem a utiliza.


Como está o Brasil nesta questão da sustentabilidade? 

Primeiro precisamos definir uma questão: O Brasil, dentro de um grupo de países com certa dimensão e importância, é o país mais ecológico do mundo. E basta um dado para se comparar: O Brasil tem 65% das suas florestas nativas preservadas. A Europa, a terra do Greenpeace, tem menos de 1%. O Brasil tem mais de 50% da sua matriz energética de fontes limpas, os países que mais se aproximam tem 13%. Sob todos os ângulos que se observar não há comparação entre o nível de sustentabilidade que o Brasil tem em relação a praticamente todos os outros países. Quer outro dado, 80% dos gases de efeito estufa são emitidos por: EUA, Europa, Japão e China e o Brasil entra lateralmente neste debate, salvo alguns ambientalistas que pensam diferente, mas que não entendem de meio ambiente. Na ordem de poluidores do mundo o Brasil é o 18º, então de maneira geral o Brasil esta bem situado.


E a região Sul, Santa Catarina e a nossa região em relação ao restante do Brasil?

O sul tem certa identidade, de São Paulo para baixo e parte de Minas Gerais tem mais ou menos a mesma estrutura de sustentabilidade e dentro destes estados é claro que Santa Catarina se situa melhor do que Paraná, que tem 92% da sua área ocupada com agricultura. Floresta original o Paraná tem muito pouco, já Santa Catarina tem ainda entre 30% e 35% de mata nativa, até pelo revelo quebrado. Mas isso não significa dizer que SC é mais sustentável que o Paraná e Rio Grande do Sul. O fato de você fazer agricultura com as tecnologias corretas, como plantio direto e não revolver o solo garante que a mesma emissão de gases na hora do plantio é captada na produção e você tem um equilíbrio. Então eu diria que mesmo sendo áreas muito produtivas são consideradas razoavelmente sustentáveis, é claro que não podemos comparar com o estado do Amazonas, que sozinho é maior que toda esta área que estamos falando e tem quase toda sua floresta preservada.   


O novo Código Ambiental vai melhorar a questão da sustentabilidade da agricultura?

Você pode raciocinar de várias formas. Quando eu estou falando de gases de efeito estufa é uma coisa, quando estou falando de biodiversidade é outra coisa. Os nossos ecologistas misturam muitos as duas coisas. Então eles dizem o seguinte: um rio precisa para sua proteção de uma margem de 30 a 500 metros, que é o que esta definido no código em vigor. Mas precisa de 500 metros para que? Para manter o rio limpo? Não, é por causa de um corredor de biodiversidade, então você já esta falando de outro assunto. Você não está falando de sustentabilidade, mas de biodiversidade. Não, eu não quero emitir gases de efeito estufa, é outro tipo de discussão. Eu tenho esta área e quero produzir com o máximo de sustentabilidade, que tecnologias eu devo utilizar. Sustentabilidade significa não degradar o solo, não poluir os rios e não emitir gases de efeito estufa além de um limite considerado razoável. Este código não fala em plantar com sustentabilidade. Este código basicamente se refere à proteção de margens de rios e nascentes e proteção de florestas, o debate basicamente define isto. O código não diz que a agricultura deve utilizar uma tecnologia adequada para evitar a perda de solo, o código não trata deste tipo de sustentabilidade.


Qual o código teria mais viabilidade. O dos ruralistas ou o dos ambientalistas?

É um pouco difícil porque você tem dentro da bancada ruralistas, que eu acho um nome inadequado, todas as correntes de pensamentos possíveis. Desde os radicais que acham que precisa plantar em tudo para produzir comida e tem os moderados que querem produzir com sustentabilidade. Da mesma forma nos ambientalistas. Quando você se depara com líder dos ambientalistas, sendo o filho do José Sarney (Sarney Filho), da vontade de pegar o chapéu e ir para casa. Por todas as razões que vocês conhecem e as que não conhecem, mas a gente conhece: esse cara nunca plantou um pé de árvore na vida. Imagina o (Carlos) Minc, um homem que nasceu na praia, viveu na praia, nunca saiu do Rio de Janeiro, que tem toda uma história que ta mais para um hippie que para outra coisa, virou ministro do meio ambiente do Brasil.


Quem pode emitir opinião sobre sustentabilidade?

Então se tem de um lado tem do outro lado, mas tem no meio disto um negócio chamado ciência, e dentro da ciência tem um negócio chamado Academia Brasileira de Ciência, na qual eu não confio porque ali se discute mais ideologia que ciência - porque quando você fala em Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tem mais estudantes que professores presentes nas reuniões. Agora quando eu falo em ciência, em sustentabilidade eu falo em 50 doutores, pós-doutorados, ou no mínimo mestrados, da Embrapa, que estudam 24 horas por dia ciência e sustentabilidade e que não estão preocupados com ideologias, ruralistas, estão preocupados com a sustentabilidade. Então o meu pensamento, o que eu coloco a público, tem mais esta visão científica. Eu não dou uma opinião sobre um assunto que eu não possa garantir que ela vai ter o apoio de uma instituição científica que efetivamente trata do assunto.


E qual o melhor código?

Com o que estava em vigor, você expulsaria do campo 1 milhão de pequenos agricultores. E este é um dado real, um dado que ninguém contestou até hoje. Ora, nem um país vai pegar um milhão de famílias e tirar a propriedade, isso não existe. Até porque não são eles que estão poluindo os rios. O Rio Iguaçu é poluído porque o esgoto de Curitiba vai para o rio. A baia de Copacabana é poluída e o mar e poluído porque o esgoto de 9 milhões de pessoas vão para o interceptor submarino oceânico. E você vê algum artista de televisão falar nisso, não, mas se vê artista, que não entende nada de meio ambiente, pedindo: “veta Dilma”. É uma discussão difícil. O atual código era completamente inadequado, tanto que Santa Catarina, o único que adotou esta medida, se insubordinou ao código nacional e fez o seu próprio código. Porque estava chegando num ponto crítico e o estado não podia expulsar os seus agricultores da terra. O Paraná perderia, se aplicado o código anterior, 15 milhões de toneladas de produção. O Mato Grosso perderia 300 mil empregos, enfim o código estava completamente fora de qualquer base técnico científica, por que tinha sido elaborado por pessoas leigas no assunto.



O campo está envelhecendo, tem algum projeto ou iniciativa para mudar esta realidade?

A realidade muda à medida que você traz qualidade de vida e valoriza o trabalho do homem do campo. Eu nasci aqui em Santa Catarina, meus avós são aqui de Calmon, mas onde o meu pai trabalhava era uma pequena propriedade e eu praticamente me criei no cabo da enxada, com oito para nove anos já estava na enxada ajudando meu pai e minha mãe. Era considerado Colono, que na época era uma palavra depreciativa. Hoje se está em outro patamar e a agricultura já passa por uma valorização muito grande. Eu fui dar uma palestra em Lucas do Rio Verde (Goiás) e tinha 400 agricultores na palestra, 200 chegaram lá de camionete. Então a agricultura esta dando retorno esta dando dinheiro. Eu também fui ao Piauí, onde tem agricultores e áreas extraordinárias de produção. Eram 100 famílias e na hora da reunião tinham 75 camionetes. O que achei ótimo, sinal que está dando dinheiro. Eu já visitei propriedades no Paraná com três filhos, onde dois estavam na faculdade e outro no ensino médio. Então a medida que se da condições para o agricultor, que leva a luz elétrica, escolas, que ele tenha qualidade de vida e a medida que sua produção traz retorno financeiro ele fica na terra. Também tem outra situação. Os alimentos estão subindo acima da inflação, vai doer no bolso do consumidor, mas valoriza quem produz e medida que se valoriza quem produz, fixa o homem no campo. A agricultura é o único setor que cresceu em média nos últimos 20 anos 4% ao ano, enquanto a economia, de maneira geral, cresceu 1% no último ano e em raros momentos cresceu mais que isso. Então a agricultura esta bem e vai continuar produzindo e dando oportunidades para os jovens, porque passou a ser um negócio importante, um bom negócio e o jovem não vai se não for um bom negócio.     

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