segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Entrevista: Valdir Cobalchini

"Santa Catarina tem que ter um crescimento harmonioso"



Valdir Cobalchini


Nasceu em São Lourenço do Oeste e é formado em Direito. Foi secretário Desenvolvimento Regional de Caçador e secretário de Coordenação e Articulação (Casa Civil), no governo de Luiz Henrique da Silveira. Nas eleições de 2010, foi o deputado com a maior votação entre os candidatos de seu partido, o PMDB. Entretanto, deixou o assento no Legislativo para assumir o cargo de secretário da Infraestrutura, em janeiro de 2011. Cobalchini recebeu a reportagem da ADI-SC/Central de Diários/CNR-SC em seu gabinete para falar um pouco sobre o trabalho que vem realizando.

"Não ficamos aqui nos lamentando, “ah, não tem recursos, e agora o que vamos fazer? Só dizer “não” às demandas seria muito cômodo, mas optamos por buscar alternativas."


[PeloEstado] - A Secretaria de Infraestrutura está hoje muito maior do que no iní­cio desse governo?
Valdir Cobalchini - Quando assumimos a secretaria, fize­mos o óbvio: um diagnóstico da situação da nossa malha viária, identificando os problemas e buscando soluções. Radiogra­famos 100% das rodovias e fi­zemos um projeto de revitaliza­ção. Ao mesmo tempo, também buscamos saber o porquê de tantos acidentes, que colocam Santa Catarina, proporcional­mente, entre os mais violentos estados do Brasil.

[PE] - Levantamento feito pelo Batalhão de Polícia Militar Rodoviária.
VC - Isso mesmo. Com esse trabalho, identificamos os cha­mados pontos críticos, onde ocorrem mais acidentes. A par­tir daí, elaboramos um progra­ma para correção desses pon­tos a fim de evitar a repetição de acidentes. Também fomos ver onde estavam os gargalos, rodovias construídas há várias décadas e que não receberam mais investimentos. Algumas não têm acostamentos ou pon­tos de escape, outras têm curvas ou declives muito acentuados e outras, ainda, ficaram espremi­das pelo crescimento urbano às suas margens, gerando graves problemas de mobilidade. Esse novo estudo nos deu condições para construir projetos em bus­ca de rodovias mais modernas, mais estruturantes e seguras.

[PE] - E os recursos?
VC - Cada passo foi acompa­nhado pela busca de recursos. Começamos com o programa BID IV (Banco Interamerica­no de Desenvolvimento). No ano passado, conseguimos que o Ministério do Planejamento priorizasse o BID IV, autori­zasse e encaminhasse para a STN (Secretaria do Tesouro Nacional). Paralelamente, tra­balhamos numa outra frente, no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a revitalização das rodovias e iluminação dos pon­tos críticos.

[PE] - O senhor está se re­ferindo basicamente às ro­dovias. O que foi feito nas demais áreas?
VC - Buscamos aproximar os portos da Secretaria, porque estão entre as competências da pasta e não estavam presentes na nossa agenda diária. Agora nos aproximamos de todos os portos, inclusive dos privados. Porque é difícil para a autorida­de portuária tratar diretamente com a SEP (Secretaria de Portos), com a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) ou com autoridades federais, lá em Brasília. A Secretaria tem essa representação institucional e deve apoiar. Os portos são mui­to importantes para o estado. Agora estamos na fase de proje­tos para que os portos também estejam inseridos nos investi­mentos do Estado, e não só da SEP, como vinha acontecendo.

[PE] - Aeroportos também estão na pauta?
VC - Da mesma forma, busca­mos nos aproximar dos aero­portos. Construímos os aero­portos de Jaguaruna, de Lages, de São Joaquim. Mas agora estamos envolvidos num pla­nejamento que envolve os ae­roportos regionais, trabalhan­do cenários futuros. E estamos fazendo algo inédito. O Estado tem a delegação da Secretaria de Aviação Civil (SAC) da Pre­sidência da República para a gestão dos aeroportos. Nós sub­delegamos essa gestão aos mu­nicípios. E agora há um modelo novo, que a SAC inaugurou com Santa Catarina. São os primei­ros dois convênios do Brasil que abrem a possibilidade de o Es­tado terceirizar a gestão, o que vai acontecer já em Jaguaruna e em Correia Pinto.

[PE] - O movimento econô­mico das regiões é conside­rado em cada ação?
VC - Sim. Temos que entender que a economia está mais dinâ­mica, que há um modal impor­tante para o desenvolvimento regional. Por isso, estamos in­vestindo pesadamente nos ae­roportos. Exemplo é o aeropor­to de Chapecó, que passou por obras essenciais, o que exigiu seu fechamento por 70 dias e toda aquela região se ressentiu. Queremos nos antecipar aos problemas. Estamos planejando a construção de um novo termi­nal e de um novo acesso, obras que vão colocar o aeroporto de Chapecó como um dos mais im­portantes não só de Santa Cata­rina, mas do Sul do Brasil. Con­solidamos uma aproximação com a Infraero, com a SAC, com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Nós recebíamos aqui notificações, mas não con­versávamos com os órgãos de controle. Hoje o ambiente é de diálogo permanente não só com esses órgãos, mas com o DNIT, com os ministérios dos Trans­portes, das Cidades, do Turis­mo. Inauguramos uma relação diferente do governo estadual com o governo federal. E sem­pre com a participação do Fó­rum Parlamentar Catarinense.

[PE] - Por que o destaque ao Fórum Parlamentar?
VC - Nós temos procurado en­volver sempre os nossos sena­dores e deputados federais. Isso nos levou a conquistar várias emendas para a Secretaria de Infraestrutura dentro do Or­çamento da União para 2012. Além de desonerar o Estado, isso aumenta a nossa capacida­de de investimento. É um traba­lho que vamos intensificar.

[PE] - A Secretaria cresceu em volume de atividades. O orçamento acompanhou?
VC - O orçamento da Secretaria de Infraestrutura, com recursos do Estado, é de R$ 300 milhões. Com o trabalho de captação de recursos em diferentes fontes, conseguimos quase que qua­druplicar nossa capacidade de investimento. O que nós fize­mos foi potencializar o nosso or­çamento. O Estado vai ter muita dificuldade, seja para a Infraes­trutura ou qualquer outra secre­taria, se contar unicamente com a fonte 100, que é o Tesouro do Estado. Nós buscamos alterna­tivas à fonte 100. Não ficamos aqui nos lamentando, “ah, não tem recursos, e agora o que va­mos fazer?”. Só dizer “não” às demandas seria muito cômodo, mas optamos por buscar alter­nativas, como usar a Lei Roua­net para captar recursos para a recuperação da ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Muitos duvidaram que seria possível, mas conseguimos e agora es­tamos buscando a participação de grandes empresas, estatais e privadas, para compor o recurso necessário para a restauração.

[PE] - Quando a população começa a perceber essas ações?
VC - Já temos obras em anda­mento e existem muitas outras sendo licitadas. Há algumas co­meçando ainda em 2012. Aliás, 2012, 2013 e 2014 serão anos de intensa atividade, de muitas obras. E aqui entra uma preocu­pação. Nós estamos, fisicamen­te, em Florianópolis, mas temos que ter a capacidade de ver além, de enxergar os extremos do nosso estado e identificar quais são as ações importantes para o desenvolvimento de San­ta Catarina. O estado tem que ter um crescimento harmonioso. É preciso potencializar alguns investimentos, em algumas re­giões mais deprimidas econo­micamente para que possam ascender e, com isso, melhorar a vida local, contribuindo para o todo do estado. Temos índices de primeiro mundo em algu­mas áreas e em algumas regi­ões, mas, infelizmente, também ainda temos índices compará­veis aos estados do nordeste. Quem está aqui, sentado numa cadeira de secretário de Estado, tem que levar isso muito a sério. Tem que ter esse foco.
Por Andréa Leonora
Florianópolis, 10 de setembro de 2012

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