Sucessão empresarial, esse assunto interessa
“Já acompanhei
processos onde a família iniciou a sucessão com um patrimônio de dez empresas e
no final, para o sócio minoritário, sobrou um apartamento”
A maioria das empresas caçadorenses e brasileiras e de
origem familiar e de gestão familiar e até aqui não existe nenhum problema. O
problema da maioria destas empresas inicia quando é necessário, por algum
motivo, realizar a sucessão do líder ou dos líderes. Para lançar um pouco de
luz ao problema entrevistamos o advogado e especialista neste assunto, Felipe
Lollato, sócio do escritório Bello & Lollato. Entrevista que inicia a série
que faremos todas as sextas-feiras, neste espaço, trazendo um assunto de seu interesse.
As nossas empresas
são quase todos familiares é muito comum problemas na sucessão?
É muito comum. Hoje atendemos 40 casos de sucessão familiar.
Advogamos em todo o Brasil e diria que estes casos estão espalhados nos três
estados do Sul, mais São Pulo e Minas Gerais. São problemas de toda ordem.
Desde aquela família que está tudo certo, mas resolve fazer o processo
preventivamente. Até empresas onde os herdeiros já estão brigando e
representamos um sócio ou grupo de sócios, ou atuamos como mediadores. Temos
vários casos deste tipo.
O que um processo
contencioso faz com as empresas?
São vários aspectos. Um deles, que considero muito
importante, é que o patriarca, quem criou a empresa, não transfere o
empreendedorismo, a visão para os negócios, pelo DNA. Também tem que levar em
conta que o herdeiro não quer ser empresário, quer ser músico, surfista,
médico, mas está com uma empresa na mão, que fatura milhões, e não tem vocação
para geri-la. Não existe empresa sem liderança e a transmissão é uma coisa
complexa pois o sujeito se vê num cenário que não escolheu, esta infeliz
fazendo aquilo ou não sabe o que fazer. Neste casos o melhor é contratar um
executivo. O proprietário recebe seus dividendos e vai morar na praia e o
executivo administra o negócio. Mas até o proprietário internalizar isso é
muito complicado, por que a família acaba transferindo esta responsabilidade
para os herdeiros. Outro problema é a mistura do patrimônio da empresa com o da
família e vice e versa. É esposa que usa o carro da empresa em benefício próprio,
retiradas de recursos ilimitadas e outras situações que vão minando a
administração da empresa.
Que medidas as
empresas familiares deviam tomar para não chegar a este processo?
O primeiro, e mais difícil, é o do dono da empresa tomar
consciência que não é eterno, que a morte é um evento certo e inevitável e não
tem dia certo para ocorrer. Pode acontecer em cinco minutos ou em cem anos, mas
vai acontecer. E quando isso acontecer à companhia fica. Então tem que se
pensar e preparar isso. Muitos me perguntam: “qual o momento certo para
preparar isso”, e eu respondo ontem. “Mas meus filhos são pequenos”, mais um
motivo para realizar a sucessão. Se empresário faltar quem vai cuidar dos seus
filhos, a empresa vai ficar abandonada.
Que medidas podem ser
tomadas para resolver estas situações e quando devo pensar nisso?
É importante dizer que para evitar este tipo de problema é
possível criar uma série de mecanismos de gestão da empresa para garantir que o
negócio tenha uma sobrevida. E sempre é tempo para se pensar nisso,
principalmente a partir do momento que a empresa tem uma estrutura, uma função
social ou um capital que precise de uma gestão profissional, se entre os
herdeiros existe algum com perfil para tocar a empresa. Temos um cliente, com
filhos entre 20 e 25 anos, que sabe que eles não querem ser empresários. Ele já
nomeou um conselho de administração, um executivo para sua falta e um sucessor
para este executivo e os filhos vão cuidar de suas carreiras.
As empresas estão
dando importância para a gestão da sucessão?
Estão dando muito mais importância do que já deram. Mas se
considerarmos que mais de 90% das empresas brasileiras são familiares, ainda é
pouco. Como tem poucos profissionais que fazem isso, temos muito trabalho, mas ainda
é pouco. O que ocorre é que muitas empresas precisam desse processo e não estão
dando importância. Empresas que os herdeiros estão com 60 anos e não existe um
capacitado para assumir a empresa por que o patriarca não pensou nisso, nem
perguntou se era isso que ele queria.
Nas empresa que fazem
o processo de sucessão o que resulta disso?
O primeiro é a segurança em vários níveis. O herdeiro já
sabe se vai ter que assumir, se não assumir quem vai assumir. Para o patriarca,
que sabe o que será feito se algo acontecer com ele. Segurança no sentido de
separar patrimônio e a gestão e resguardar o patrimônio de eventuais problemas
que empresa possa ter. Pode-se planejar o que será feito com este patrimônio,
se vender ou socorrer a empresa, e de que forma vai fazer isso. Outro fator é a
gestão profissional da empresa, que melhora muito.
Você poderia ilustrar
com algum caso este processo?
Eu tenho dois casos que posso contar e ilustrar o que estou
falando. O primeiro deles é de uma companhia que quando eu comecei a trabalhar
no escritório, há 15 anos, eles estavam iniciando uma briga societária. Era um
dos maiores conglomerados do Oeste de Santa Catarina com 10 empresas e o
escritório representava os sócios majoritários que detinham 70% da empresa.
Essa briga durou dez anos, quando terminou o processo o sócio minoritário
recebeu um apartamento de tudo aquilo. Limitaram-se a brigar e acabaram com
tudo. Por outro lado, temos uma empresa de Caçador, que no último ano teve um
acréscimo de 40% no faturamento e 65% na rentabilidade, que o empresário nos
procurou há dois anos para fazer um planejamento. Este ano concluímos o
planejamento e eliminamos todos os problemas e riscos. Esta tudo certo:
patrimônio, gestão, direitos dos sucessores. O filho que não quer tomar parte
do negócio teve seus direitos resguardados e o filho que vai permanecer foi
para Europa trabalhar em uma empresa do mesmo ramo e se preparar para assumir.
Algumas empresas já
tentaram fazer a sucessão e não conseguiram?
Nós temos um histórico de razoável sucesso. Mas já tivemos
casos de empresa que iniciaram o processo e abandonaram, morreu o patriarca e
tivemos que emendar o processo. Mas isso é comum o processo não andar, a
empresa desiste, o dono do capital considera o processo desnecessário entre
outros motivos.
Que conselhos você
daria para empresas nesta situação?
Eu daria dois conselhos: um para o empreendedor e outro para
o herdeiro. Para o empreendedor diria que não por que a empresa é a vida dele,
que isso terá que ser a vida do herdeiro. Até entendo e admiro os
empreendedores, pois não é fácil construir uma empresa com todas as
dificuldades do Brasil e não saber qual será o seu futuro, mas ele tem saber
que isso não esta no DNA, não passa de pai para filho. Para os herdeiros meu
conselho é avaliar se é isso que ele quer para vida dele. Se assumir a empresa
vai deixar tornar ele uma pessoa realizada, ótimo. Mas se não for, viver
infeliz só para dizer que tocou o negócio do pai não é uma coisa boa. Sempre há
uma alternativa e esta deve ser buscada.
Que serviços a Bello
& Lolatto oferece para as empresas em processo de sucessão?
Nos trabalhamos com planejamento patrimonial e sucessório de
empresas familiares. Onde fazemos um trabalho para diminuir os impactos da
sucessão, planejamos como deve ser tratada esta questão, do patrimônio e da
gestão da empresa. Também fazemos a recuperação judicial de empresa, gestão de
crise, renegociamos o passivo e contenciosos de alta complexidade, aqueles
processos que não fazem parte do dia-a-dia, que demandam de um estudo maior e
uma equipe multidisciplinar. E na nossa equipe, de 23 pessoas, entre os
escritórios de Caçador e Florianópolis, temos profissionais das áreas de
contabilidade e economia especialistas basicamente em três assuntos:
Planejamento patrimonial sucessório e direito societário, gestão de crise e
contencioso de alta complexidade.
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