segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Entrevista/Felipe Lollato


Sucessão empresarial, esse assunto interessa


“Já acompanhei processos onde a família iniciou a sucessão com um patrimônio de dez empresas e no final, para o sócio minoritário, sobrou um apartamento”



A maioria das empresas caçadorenses e brasileiras e de origem familiar e de gestão familiar e até aqui não existe nenhum problema. O problema da maioria destas empresas inicia quando é necessário, por algum motivo, realizar a sucessão do líder ou dos líderes. Para lançar um pouco de luz ao problema entrevistamos o advogado e especialista neste assunto, Felipe Lollato, sócio do escritório Bello & Lollato. Entrevista que inicia a série que faremos todas as sextas-feiras, neste espaço, trazendo um assunto de seu interesse.








As nossas empresas são quase todos familiares é muito comum problemas na sucessão?


É muito comum. Hoje atendemos 40 casos de sucessão familiar. Advogamos em todo o Brasil e diria que estes casos estão espalhados nos três estados do Sul, mais São Pulo e Minas Gerais. São problemas de toda ordem. Desde aquela família que está tudo certo, mas resolve fazer o processo preventivamente. Até empresas onde os herdeiros já estão brigando e representamos um sócio ou grupo de sócios, ou atuamos como mediadores. Temos vários casos deste tipo.




O que um processo contencioso faz com as empresas? 


São vários aspectos. Um deles, que considero muito importante, é que o patriarca, quem criou a empresa, não transfere o empreendedorismo, a visão para os negócios, pelo DNA. Também tem que levar em conta que o herdeiro não quer ser empresário, quer ser músico, surfista, médico, mas está com uma empresa na mão, que fatura milhões, e não tem vocação para geri-la. Não existe empresa sem liderança e a transmissão é uma coisa complexa pois o sujeito se vê num cenário que não escolheu, esta infeliz fazendo aquilo ou não sabe o que fazer. Neste casos o melhor é contratar um executivo. O proprietário recebe seus dividendos e vai morar na praia e o executivo administra o negócio. Mas até o proprietário internalizar isso é muito complicado, por que a família acaba transferindo esta responsabilidade para os herdeiros. Outro problema é a mistura do patrimônio da empresa com o da família e vice e versa. É esposa que usa o carro da empresa em benefício próprio, retiradas de recursos ilimitadas e outras situações que vão minando a administração da empresa.




Que medidas as empresas familiares deviam tomar para não chegar a este processo?


O primeiro, e mais difícil, é o do dono da empresa tomar consciência que não é eterno, que a morte é um evento certo e inevitável e não tem dia certo para ocorrer. Pode acontecer em cinco minutos ou em cem anos, mas vai acontecer. E quando isso acontecer à companhia fica. Então tem que se pensar e preparar isso. Muitos me perguntam: “qual o momento certo para preparar isso”, e eu respondo ontem. “Mas meus filhos são pequenos”, mais um motivo para realizar a sucessão. Se empresário faltar quem vai cuidar dos seus filhos, a empresa vai ficar abandonada.




Que medidas podem ser tomadas para resolver estas situações e quando devo pensar nisso?


É importante dizer que para evitar este tipo de problema é possível criar uma série de mecanismos de gestão da empresa para garantir que o negócio tenha uma sobrevida. E sempre é tempo para se pensar nisso, principalmente a partir do momento que a empresa tem uma estrutura, uma função social ou um capital que precise de uma gestão profissional, se entre os herdeiros existe algum com perfil para tocar a empresa. Temos um cliente, com filhos entre 20 e 25 anos, que sabe que eles não querem ser empresários. Ele já nomeou um conselho de administração, um executivo para sua falta e um sucessor para este executivo e os filhos vão cuidar de suas carreiras.




As empresas estão dando importância para a gestão da sucessão?  


Estão dando muito mais importância do que já deram. Mas se considerarmos que mais de 90% das empresas brasileiras são familiares, ainda é pouco. Como tem poucos profissionais que fazem isso, temos muito trabalho, mas ainda é pouco. O que ocorre é que muitas empresas precisam desse processo e não estão dando importância. Empresas que os herdeiros estão com 60 anos e não existe um capacitado para assumir a empresa por que o patriarca não pensou nisso, nem perguntou se era isso que ele queria.




Nas empresa que fazem o processo de sucessão o que resulta disso? 


O primeiro é a segurança em vários níveis. O herdeiro já sabe se vai ter que assumir, se não assumir quem vai assumir. Para o patriarca, que sabe o que será feito se algo acontecer com ele. Segurança no sentido de separar patrimônio e a gestão e resguardar o patrimônio de eventuais problemas que empresa possa ter. Pode-se planejar o que será feito com este patrimônio, se vender ou socorrer a empresa, e de que forma vai fazer isso. Outro fator é a gestão profissional da empresa, que melhora muito.




Você poderia ilustrar com algum caso este processo?


Eu tenho dois casos que posso contar e ilustrar o que estou falando. O primeiro deles é de uma companhia que quando eu comecei a trabalhar no escritório, há 15 anos, eles estavam iniciando uma briga societária. Era um dos maiores conglomerados do Oeste de Santa Catarina com 10 empresas e o escritório representava os sócios majoritários que detinham 70% da empresa. Essa briga durou dez anos, quando terminou o processo o sócio minoritário recebeu um apartamento de tudo aquilo. Limitaram-se a brigar e acabaram com tudo. Por outro lado, temos uma empresa de Caçador, que no último ano teve um acréscimo de 40% no faturamento e 65% na rentabilidade, que o empresário nos procurou há dois anos para fazer um planejamento. Este ano concluímos o planejamento e eliminamos todos os problemas e riscos. Esta tudo certo: patrimônio, gestão, direitos dos sucessores. O filho que não quer tomar parte do negócio teve seus direitos resguardados e o filho que vai permanecer foi para Europa trabalhar em uma empresa do mesmo ramo e se preparar para assumir.




Algumas empresas já tentaram fazer a sucessão e não conseguiram?


Nós temos um histórico de razoável sucesso. Mas já tivemos casos de empresa que iniciaram o processo e abandonaram, morreu o patriarca e tivemos que emendar o processo. Mas isso é comum o processo não andar, a empresa desiste, o dono do capital considera o processo desnecessário entre outros motivos.




Que conselhos você daria para empresas nesta situação?


Eu daria dois conselhos: um para o empreendedor e outro para o herdeiro. Para o empreendedor diria que não por que a empresa é a vida dele, que isso terá que ser a vida do herdeiro. Até entendo e admiro os empreendedores, pois não é fácil construir uma empresa com todas as dificuldades do Brasil e não saber qual será o seu futuro, mas ele tem saber que isso não esta no DNA, não passa de pai para filho. Para os herdeiros meu conselho é avaliar se é isso que ele quer para vida dele. Se assumir a empresa vai deixar tornar ele uma pessoa realizada, ótimo. Mas se não for, viver infeliz só para dizer que tocou o negócio do pai não é uma coisa boa. Sempre há uma alternativa e esta deve ser buscada.




Que serviços a Bello & Lolatto oferece para as empresas em processo de sucessão?


Nos trabalhamos com planejamento patrimonial e sucessório de empresas familiares. Onde fazemos um trabalho para diminuir os impactos da sucessão, planejamos como deve ser tratada esta questão, do patrimônio e da gestão da empresa. Também fazemos a recuperação judicial de empresa, gestão de crise, renegociamos o passivo e contenciosos de alta complexidade, aqueles processos que não fazem parte do dia-a-dia, que demandam de um estudo maior e uma equipe multidisciplinar. E na nossa equipe, de 23 pessoas, entre os escritórios de Caçador e Florianópolis, temos profissionais das áreas de contabilidade e economia especialistas basicamente em três assuntos: Planejamento patrimonial sucessório e direito societário, gestão de crise e contencioso de alta complexidade.    

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