terça-feira, 14 de agosto de 2012

Artigo do Reitor


Educação Infantil - V I

Adelcio Machado dos Santos*

A criança é um ser social, o que significa dizer que seu desenvolvimento se dá entre outros seres humanos, em um espaço e tempo determinados. Machado (1994), afirma que é na interação social que a criança entrará em contato e se utilizará de instrumentos mediadores, desde a mais tenra idade.  A necessidade e o desejo de decifrar o universo de significações que a cerca, conduz a criança a coordenar idéias e ações a fim de solucionar os problemas que se apresentam.
Quando é alimentada pelo adulto, ouve uma canção cantada por ele, rola sozinha uma bola no chão ou tem um brinquedo subitamente arrancado de sua mão, diferentes processos de elaboração mental se fazem presentes, concomitantemente, na criança.
É a vivencia no meio humano, na atividade instrumental, na interação com outros indivíduos, que permitirá o desenvolvimento, na criança, de um novo e complexo sistema psicológico. Assim, a educação infantil exerce um papel fundamental neste processo, auxiliando no desenvolvimento da criança.
Neste sentido, Rocha (1999), sustenta que a infância como fato biológico é natural, porém, como fato social, reflete as variações da cultura humana e embora existam controvérsias sobre suas origens como categoria social, as diferentes conformações que ela passa a adquirir refletem as transformações histórico-sociais que assumem marcas bem definidas, especialmente a partir da Idade Média, quando, mormente no contexto europeu, altera-se significativamente a organização social.
Os condicionantes sob os quais a criança é submetida ,principalmente quando ingressa na sociedade moderna, em espaços que têm como características a iniciativa pedagógica, vinculam-se a uma determinada cultura da infância.
Esta cultura da infância resulta de diversas constituições sociais que têm como conseqüência estilos de inserção dos novos sujeitos nos contextos socioculturais, por meio de diferentes modos de intervenção educativa.
Uma mesma sociedade, em seu tempo, comportará a partir de sua constituição social, econômica e cultural, diferentes infâncias, assegura Rocha (1999). Cada qual, com base no lugar social que ocupa, será objeto de intervenção dos adultos, seja no sentido do enquadramento social, adaptando-se ao mundo, seja protegendo na infância uma nova sociedade, seja conciliando estes dois modos.
              Assim, a história da infância e da sua educação é a própria história da heteronomia da infância, cuja análise possibilita encontrar algumas características dominantes que refletem diferentes formas e tradições históricas da ambivalência: da liberdade e da subordinação; da tutela e do controle; do apoio pedagógico e da submissão.
Percebe-se, na certeza absoluta da orientação da criança pelas “leis naturais” a preocupação de formar na criança o homem de amanhã para a realização de uma sociedade harmoniosa e equilibrada. A função social da educação de transformar novos seres humanos em futuros cidadãos ainda é tomada pela pedagogia como sua maior tarefa. Conforme Rocha (1999), a infância, como depositária das esperanças da sociedade futura, permanece no horizonte, seja pela preservação desta infância, seja pela disciplinação.
Deste modo, a pedagogia contemporânea, voltada para a educação infantil, permanece em uma contradição.  Por um lado, a criança é conceituada como um ser naturalmente inacabado, imperfeito e desprovido de tudo, sendo que a função da tarefa pedagógica é combater essa natureza, inculcando regras, disciplina e transmitindo modelos. Noutro pólo, prevalece a idéia da preservação, preocupada em não destruir a “inocência original”, protegendo a natureza.
Aqui, a ação do educador deveria guiar-se pelos interesses e necessidades infantis. Por estas duas perspectivas, a pedagogia apenas traduz conceitos vindos da filosofia, e elabora representações da infância como uma natureza contraditória: ao mesmo tempo perfeita e imperfeita, dependente e independente.
Numa visão antagonizada destes dois extremos, perde-se a dimensão das múltiplas possibilidades da criança concreta, que tem formas próprias de expressão, socialização, interpretação, etc. Se a pedagogia dissimula a significação social da infância por trás da idéia de natureza humana e de luta contra a corrupção e a criança não é vista como ser humano, como um ser social em desenvolvimento, a criança não é considerada em termos das relações sociais que estabelece. Desconsiderando-se as desigualdades sociais, tem-se como conseqüência sua própria confirmação, argumenta Rocha (1999).

* Pós-Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Especialista em Gestão Educacional, em Psicopedagogia e em Supervisão, Orientação e Administração Escolar; Reitor da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP); Advogado (OAB/SC nº 4912), Administrador (CRA/SC nº 21.651) e Jornalista (MTE/SC nº 4155).

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