Educação Infantil - V I
Adelcio Machado dos Santos*
A criança é um ser social, o que significa dizer que seu
desenvolvimento se dá entre outros seres humanos, em um espaço e tempo
determinados. Machado (1994), afirma que é na interação social que a criança
entrará em contato e se utilizará de instrumentos mediadores, desde a mais
tenra idade. A necessidade e o desejo de
decifrar o universo de significações que a cerca, conduz a criança a coordenar
idéias e ações a fim de solucionar os problemas que se apresentam.
Quando é alimentada pelo adulto,
ouve uma canção cantada por ele, rola sozinha uma bola no chão ou tem um
brinquedo subitamente arrancado de sua mão, diferentes processos de elaboração
mental se fazem presentes, concomitantemente, na criança.
É a vivencia no meio humano, na atividade instrumental, na
interação com outros indivíduos, que permitirá o desenvolvimento, na criança,
de um novo e complexo sistema psicológico. Assim, a educação infantil exerce um
papel fundamental neste processo, auxiliando no desenvolvimento da criança.
Neste sentido, Rocha (1999),
sustenta que a infância como fato biológico é natural, porém, como fato social,
reflete as variações da cultura humana e embora existam controvérsias sobre
suas origens como categoria social, as diferentes conformações que ela passa a
adquirir refletem as transformações histórico-sociais que assumem marcas bem
definidas, especialmente a partir da Idade Média, quando, mormente no contexto
europeu, altera-se significativamente a organização social.
Os condicionantes sob os quais a criança é submetida
,principalmente quando ingressa na sociedade moderna, em espaços que têm como
características a iniciativa pedagógica, vinculam-se a uma determinada cultura
da infância.
Esta cultura da infância resulta
de diversas constituições sociais que têm como conseqüência estilos de inserção
dos novos sujeitos nos contextos socioculturais, por meio de diferentes modos
de intervenção educativa.
Uma mesma sociedade, em seu
tempo, comportará a partir de sua constituição social, econômica e cultural,
diferentes infâncias, assegura Rocha (1999). Cada qual, com base no lugar
social que ocupa, será objeto de intervenção dos adultos, seja no sentido do
enquadramento social, adaptando-se ao mundo, seja protegendo na infância uma
nova sociedade, seja conciliando estes dois modos.
Assim, a
história da infância e da sua educação é a própria história da heteronomia da
infância, cuja análise possibilita encontrar algumas características dominantes
que refletem diferentes formas e tradições históricas da ambivalência: da
liberdade e da subordinação; da tutela e do controle; do apoio pedagógico e da
submissão.
Percebe-se, na certeza absoluta
da orientação da criança pelas “leis naturais” a preocupação de formar na
criança o homem de amanhã para a realização de uma sociedade harmoniosa e
equilibrada. A função social da educação de transformar novos seres humanos em
futuros cidadãos ainda é tomada pela pedagogia como sua maior tarefa. Conforme
Rocha (1999), a infância, como depositária das esperanças da sociedade futura,
permanece no horizonte, seja pela preservação desta infância, seja pela
disciplinação.
Deste modo, a pedagogia
contemporânea, voltada para a educação infantil, permanece em uma
contradição. Por um lado, a criança é
conceituada como um ser naturalmente inacabado, imperfeito e desprovido de
tudo, sendo que a função da tarefa pedagógica é combater essa natureza,
inculcando regras, disciplina e transmitindo modelos. Noutro pólo, prevalece a
idéia da preservação, preocupada em não destruir a “inocência original”,
protegendo a natureza.
Aqui, a ação do educador deveria
guiar-se pelos interesses e necessidades infantis. Por estas duas perspectivas,
a pedagogia apenas traduz conceitos vindos da filosofia, e elabora
representações da infância como uma natureza contraditória: ao mesmo tempo
perfeita e imperfeita, dependente e independente.
Numa visão antagonizada destes
dois extremos, perde-se a dimensão das múltiplas possibilidades da criança
concreta, que tem formas próprias de expressão, socialização, interpretação,
etc. Se a pedagogia dissimula a significação social da infância por trás da
idéia de natureza humana e de luta contra a corrupção e a criança não é vista
como ser humano, como um ser social em desenvolvimento, a criança não é
considerada em termos das relações sociais que estabelece. Desconsiderando-se
as desigualdades sociais, tem-se como conseqüência sua própria confirmação,
argumenta Rocha (1999).
* Pós-Doutor pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC); Especialista em Gestão Educacional , em Psicopedagogia e em
Supervisão, Orientação e Administração Escolar; Reitor da Universidade Alto
Vale do Rio do Peixe (UNIARP); Advogado (OAB/SC nº 4912), Administrador (CRA/SC
nº 21.651) e Jornalista (MTE/SC nº 4155).
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