Quase um mês após o desfecho sumário que provocou a derrocada do presidente constitucional do Paraguai, já é possível analisar com mais acuidade os interesses geopolíticos envolvidos.
Não é uma novidade que as iniciativas de integração sul-americana, aprofundadas após a posse de governos progressistas nesse rincão, estabelecem desafio para a estratégia da Casa Branca, cujas raízes remontam à velha Doutrina Monroe. Desde que o quinto presidente dos Estados Unidos proclamou seu enunciado, em 1823, "a América para os americanos" virou o zênite da política continental de Washington.
Na virada do século, o centro
dessa estratégia era a constituição da ALCA - a Área de Livre Comércio das
Américas, que selaria a hegemonia sobre nações que considera sua reserva
natural de influência. As vitórias eleitorais de esquerda, especialmente de
Hugo Chávez e Lula, colocaram por terra o plano expansionista.
Os formuladores do Departamento
de Estado levaram algum tempo para reagir. Substituíram a abordagem de bloco
pela bilateralidade. Através de tratados de livre-comércio e acordos militares,
entenderam que o melhor caminho para defender suas posições seria dificultar
que a região encontrasse fórmulas de unidade fora de seu controle.
Com esse objetivo, além dos
vínculos com governos conservadores (o caso da Colômbia é o mais exemplar), os
EUA trataram de intensificar sua atuação para isolar os processos mais
consolidados de mudança política (especialmente a Venezuela de Chávez) e
interferir contra novos avanços da esquerda. As
fichas reveladas pelo Wikileaks estão fartas de informações a
respeito.
A atitude em relação ao Brasil,
no entanto, vinha se mostrando instável. Com momentos de choque, como no caso
iraniano, e outros de pressão nos bastidores, buscando enfraquecer as posições
brasileiras no cenário internacional sem afrontá-las. Na maior parte do tempo,
contudo, a Casa Branca preferiu defender seus interesses atrás do palco.
Base militar
A derrubada de Lugo, porém, abre novo capítulo. Imediatamente reconhecido por Washington, o governo de Federico Franco facilita enclave norte-americano na área do Mercosul, incluindo a retomada do projeto da base militar de Mariscal Estigarriba. Poucos dias após a queda do presidente, uma delegação do Pentágono já se encontrava em Assunção, conforme revelou o insuspeito deputado Lopes Chávez, presidente da Comissão de Defesa da Câmera de Deputados e aliado do general Lino Oviedo, um dos mentores do golpe.
Base militar
A derrubada de Lugo, porém, abre novo capítulo. Imediatamente reconhecido por Washington, o governo de Federico Franco facilita enclave norte-americano na área do Mercosul, incluindo a retomada do projeto da base militar de Mariscal Estigarriba. Poucos dias após a queda do presidente, uma delegação do Pentágono já se encontrava em Assunção, conforme revelou o insuspeito deputado Lopes Chávez, presidente da Comissão de Defesa da Câmera de Deputados e aliado do general Lino Oviedo, um dos mentores do golpe.
Além de pretensões práticas, os
EUA, ao favorecerem uma virada de mesa na vizinhança brasileira, possivelmente
imaginaram colocar em xeque a capacidade do principal país da região em reagir
a situações de conflito. Não é segredo, afinal, que o bloco sul-americano depende
da força política, econômica e militar do Brasil.
Mas o desenlace, por ora, fustiga
os desejos da superpotência. Apesar da influência de grupos pró-Monroe, e por
isso mesmo criticado pela hesitação perante o golpe, o Itamaraty seguiu as
determinações da presidente Dilma e a Casa Branca tomou o troco, com a
suspensão do Paraguai e a integração da Venezuela ao Mercosul.
Logo os aliados de Washington,
das mais distintas nacionalidades, começaram a espernear, tentando reverter ou
desgastar a resposta liderada pelo Brasil. A começar pelo secretário-geral da
OEA (Organização dos Estados Americanos), entidade
notoriamente subordinada aos desígnios norte-americanos. Uma reação que
ressalta o quanto a disputa ultrapassa o cenário de um pequeno país.
Está em jogo o próprio projeto de
integração sul-americana. Os adversários desse processo arriscaram um ataque
frontal à liderança brasileira, em plena Rio+20, na expectativa de derrubar uma
peça do dominó e ver todas as demais caírem na sequência. Até agora,
encontraram resistência à altura.
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