Por Osni Ribeiro
Mello
Osni R. Mello (ORM) -
Como foi a tua infância e juventude em Caçador?
Junior Cigano (JC)
- A minha infância foi difícil, acho que como a realidade da maioria dos brasileiros.
Como a maioria das pessoas eu tive uma infância difícil, pobre, mas de grande
aprendizado, porque a minha mãe sempre esteve presente, me incentivando ao
estudo, a minha religião, e tudo mais. E isso foi importante. Eu trago grandes
ensinamentos não só da minha infância, mas da juventude, quando comecei a
trabalhar muito cedo, com dez anos, vendendo picolé nas ruas para ganhar meu próprio
dinheiro. Sempre me virei como pessoa e foi um grande aprendizado, me ensinou
tanto que hoje eu sei dar valor ao que eu tenho e ao que estou conquistando.
ORM - Em que momento a
luta, o esporte que você pratica hoje, entrou na tua vida?
JC - Eu nunca
imaginei, alias nem sonhava ser lutador, porque era uma coisa diferente para
realidade que vivia naquela época. Mas depois de ter ido embora de Caçador e
ter ficado um tempo em Salvador (BA) eu estava meio gordinho e resolvi treinar.
Foi então, que meio por acaso o esporte entrou na minha vida, o MMA entrou na
minha vida. Eu nunca fui bom de futebol e nunca fui bom de outros esportes, mas
na luta eu acabei me encontrando. Como aprendia muito rápido - sempre aprendi
tudo muito rápido - me dediquei e um ano e meio depois de começar a treinar (abril
de 2005) eu estava fazendo a minha estreia como profissional e vencendo por
nocaute um lutador que já tinha sete lutas (Jailson Silva Santos em 16 de julho
de 2006). Naquele momento eu descobri que era isso que eu queria para minha
vida.
ORM - Qual o momento
da tua vida foi determinante no sucesso como pessoa e no esporte?
JC - Acho que
todos os momentos da minha vida foram determinantes, porque a gente não vive de
momentos, a gente tem que ter um caminho a seguir e eu sempre escolhi um
caminho bom. Nunca fui um cara de procurar caminhos ruins como a droga, cigarro
e bebidas. Eu até bebia um pouco antes de começar a treinar, mas no momento que
descobri que era aquilo que eu queria para minha vida, após a primeira luta que
venci, eu deixei de beber e deixei de usar qualquer tipo de bebida alcoólica e
com drogas e cigarro eu nunca tive envolvimento. E isso foi um dos fatores
determinantes da minha saúde, da minha força como lutador, porque eu cuido
muito do meu corpo, cuido de mim mesmo. Todas as escolhas que você faz na vida
levam você a um determinado ponto e as escolhas que fiz me trouxeram até aqui.
Muitas vezes as escolhas foram difíceis, me levaram a passar alguma
dificuldade, mas eu sabia que era o certo pra mim, que era bom pra mim e
continuei acreditando nisso.
“Todas as
escolhas que você faz na vida levam você a um determinado ponto e as escolhas
que fiz na vida me trouxeram até aqui”
ORM - Você poderia me
citar um momento difícil da tua trajetória?
JC - Na minha
infância eu chegava em casa e encontrava a minha mãe chorando, porque não tinha
recebido o pagamento e não tinha dinheiro nem para comprar a comida para gente.
Este foi um dos momentos que mais marcou na minha vida. Outro foi quando eu
morava sozinho em Salvador e trabalhava 12 horas por dia, como garçom, para
ganhar 250 reais por mês, sem folga durante a semana e isso era bastante
pesado. Comecei lavando pratos, depois fui passador de carne, mas sempre como
ajudante. Foram momentos muito difíceis, mas que me ensinaram a dar valor ao
que eu tenho hoje.
ORM - Em que momento
você sentiu que podia ser um campeão do UFC?
JC - Eu sempre
fui um cara muito confiante e sonhador, sou aquariano. A partir do momento que
eu comecei a ter bons resultados eu também comecei a sonhar em um dia ter um
grande nome no meio e conquistar a cinturão de campeão do mundo. Então ser o
numero um do mundo era o meu sonho e durante a minha carreira de lutador, por
mais difícil que fosse, por mais que as pessoas não acreditassem em mim por eu
ser jovem no esporte e ter começado tarde, com 21 anos, eu sabia dentro de mim
que se acreditasse eu tinha condições conquistar o mundo e hoje isso se tornou
realidade.
“A gente
escolhe o caminho da vitória e quando escolhe o caminho da vitória tem que
correr atrás dos objetivos”
ORM - Você acha que
suas conquistas vieram rápido?
JC - Acho que foi
rápido. Normalmente quem tem resultados no esporte são pessoas que treinam
desde a infância ou da juventude e já tem o corpo preparado para isso, já é habitual
para eles estar treinando, para mim nunca foi. Eu sempre fui muito forte, mas é
um treinamento totalmente diferente, então meu corpo teve que se adaptar a
isso, sofri bastante, apanhei demais, mas tive muita determinação segui o meu
caminho e continuei acreditando. Primeiro você tem que acreditar em você mesmo
e quando sentir que é aquilo que quer para sua vida correr atrás, passar por
todas as dificuldade e obstáculos. Eu fiz isso. De quase não ganhar nada para
lutar, dinheiro que mal dava para me manter, momento da minha vida que contei
com a ajuda da Vilsana (esposa) - uma pessoa que sempre esteve ao meu lado -
foi importante ter acreditado e seguido neste caminho, sabendo que eu tinha
muito para mostrar como lutador. As coisas foram acontecendo aos poucos, meus
sonhos foram crescendo e chegando mais próximo do meu sonho que era me tornar
campeão do mudo e ter aquele cinturão. Conforme as coisas aconteciam eu ficava
mais feliz e essa felicidade me fazia mais forte e mais motivado a continuar perseguindo
meu objetivo.
ORM - Naquele momento
que antes de iniciar a luta, no que o lutador Cigano pensa?
JC - Penso na
minha estratégia e esqueço tudo foram do octógono. Penso na minha estratégia e
no meu objetivo que é vencer. Eu não quero machucar ninguém, não quero o mal de
ninguém, sou colega do meu adversário, mas eu quero vencer porque trabalho duro
em busca da vitória. Escolhi o caminho da vitória e graças a deus estou vivendo
o caminho da vitória, mas nada além disso passa na minha cabeça. Mantenho o
foco na luta e tento pensar na minha estratégia e nos golpes que eu vou usar
durante a luta.
ORM - Quais são as
vantagens e as desvantagens de ser um campeão mundial?
JC - Desvantagens
não existem. Este é o ápice de qualquer lutador e todos almejam ser o campeão
do mundo. Eu era assim, hoje graças a Deus sou o campeão do mundo e meus sonhos
aumentaram. Agora quero defender este cinturão, quebrar recordes e manter o
título comigo por muito tempo. E tudo que isso trouxe para minha vida as
pessoas estão vendo: um cara que saiu aqui de Caçador e de uma família humilde,
pobre, está conquistando a mundo. As pessoas me conhecem ao redor do mundo,
torcem por mim, gostam de mim e isso é muito gratificante. Quero passar isso
adiante, quero servir de inspiração não só para as crianças e adolescentes, mas
para todas as pessoas que estão em busca de um objetivo maior, de uma vitória
na vida. A gente escolhe o caminho da vitória e quando escolhe o caminho da
vitória tem que correr atrás dos objetivos.
ORM - O que o sucesso
te trouxe de melhor?
JC - A felicidade
e a alegria da minha família, o bem estar da minha família e isso é importante.
Quando a gente esta bem quer cuidar da família e eu tenho feito isso. Todo
mundo está vivendo um momento bom e as coisas vão melhorar. Tudo é muito
recente, mas eu acredito que as coisas vão melhor bastante e saber disso me
deixa feliz. O reconhecimento também é bom. O reconhecimento dos fãs, da mídia.
Quando a gente trabalha duro, quer ser reconhecido por aquilo. Quando a gente
dá o melhor da gente para alguma coisa e as pessoas reconhecem é muito
gratificante e honroso para mim.
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