sexta-feira, 6 de julho de 2012

Um dia na redação de “O Globo”



Junho 17, 2008
Por Julia Simek, Renato Camilo, Branca Dias, Clara Rodrigues, Fabiane Mariano e Igor

O dia começa em uma roleta. Na verdade, não existe um começo nem um fim. Fazer jornal é um exercício full time. Editores, redatores, repórteres, fotógrafos, pauteiros, chefes de reportagem, diagramadores, executivos, faxineiros, publicitários, secretários, e milhares outras pessoas passam todos os dias pelas roletas do prédio de número 35 da Rua Irineu Marinho, no Centro da cidade.
Máquinas de escrever, pessoas fumando, milhares de cinzeiros com guimbas de cigarro, jornais sendo diagramados à mão. Definitivamente a redação do jornal mudou. Após a lei n° 9.294 – Art. 2°, que sancionou a proibição de fumar em lugares fechados, o que mais se vê junto às pilastras que cortam a grande sala são placas de “proibido fumar”. Mas o que não mudou é o fato de uma redação ser um grande centro de comunicação. Computadores a perder de conta, diversos televisores sintonizados em canais de jornalismo - como Globo News, Sportv, CNN - e impressoras espalhadas por todos os cantos. Esta é a nova cara de uma redação.
O jornal “O Globo” é dividido em grandes blocos de editorias: nacional, esporte, economia, segundo caderno, Rio e suplementos. Cada editoria tem seus editores, repórteres, diagramadores e redatores. Na redação encontramos espaços reservados para cada editoria. Nas margens ficam os chamados “aquários” - salas com parede de vidro onde se encontram os colunistas, o diretor de redação, a arte - secção destinada a toda parte de design do jornal, o editor-executivo – que faz a produção do jornal, a apuração - área de escuta de rádios e visualização de canais de televisão, que funcionam 24 horas, e o apoio técnico - este disponibiliza e controla todo tipo de equipamento usado em reportagens.
Sete horas: para muitos, a jornada de trabalho acabou; para outros, só está começando. Não existe no jornal um único cronograma. Cada membro cumpre, dependendo da sua editoria e função, jornadas diferentes. Nesta hora da manhã, chegam à redação os sub-chefes de reportagem. Estes começam a analisar quais serão as notícias do próximo jornal e a mandar, se necessário, repórteres para as ruas. Lá pelas dez chegam os editores, chefes de reportagem e o editor-executivo. Em média, cada editoria tem três editores, mas eles não chegam necessariamente no mesmo horário.
A editoria Rio é a que funciona mais intensamente. A ela pertence a apuração que já foi o grande centro nervoso do jornal. Nesta sala, até pouco tempo atrás, ouviam-se escutas 24 horas da polícia e dos bombeiros. Havia uma parceria entre o jornal e estas instituições que deixou de existir quando os traficantes passaram a dispor dos mesmos recursos.
Existem os chamados pauteiros nas editorias Rio, economia e nacional. Estes funcionários chegam por volta das 18 horas para ajudar a apurar possíveis noticiais e saem às 3 da manhã. Um meio pelo qual as editorias captam informações e criam pautas é através de “agências de informação”- sites pagos pelo jornal que contém os principais fatos que estão ocorrendo no mundo, 24 horas por dia. Outra ferramenta são os sites de grandes jornais como o “Washington Post”, “New York Times”, “Lê Monde” e “El País”.
            Quando chegam os editores e os chefes de reportagem, normalmente os integrantes de cada editoria se reúnem para decidir quais notícias serão levadas para a primeira reunião de pauta. Esta ocorre às 11 horas. Dela participam um editor de cara editoria, o editor-executivo, e na escuta por telefone, o editor-executivo da surcusal do “O Globo” de Brasília. A reunião começa com uma auto-avaliação. Conjuntamente os participantes avaliam como foi o desempenho das notícias publicadas pelo jornal (em relação a outros jornais como O Dia, Extra, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil) do dia anterior. Fotos, títulos e matérias são avaliados. Terminada essa etapa, os editores começam a “vender” as notícias para o editor-executivo. Este seleciona as matérias e diz o ângulo que será abordado montando, assim, a pauta. Como ainda está no início do dia, esta é apenas uma previsão do próximo jornal, uma tentativa de planejamento. Depois dessa etapa os editores negociam com o editor-executivo o número de páginas da próxima edição. Por último, são decididas quais serão as manchetes do jornal que serão veiculadas na televisão.
A redação só começa a encher lá pelo meio-dia. Como diz Ricardo Noblat “lugar de repórter é na rua” - e nessa hora é isso mesmo que vemos. A sala começa a ser preenchida por redatores e diagramadores. Cada editoria recebe o que chamam de “espelho”, que é um projeto das folhas do jornal já com os espaços destinados a publicidade para os editores desenvolverem as matérias de acordo com esse espaço.
Assuntos da editoria internacional são desenvolvidos através das informações enviadas por correspondentes e colaboradores espalhados por vários países. Cada editoria tem seus próprios repórteres, mas existe a possibilidade - e isso é bem comum - de se “pegar emprestado” quando a notícia demanda um grande número de profissionais.
Os fotógrafos, ao voltarem das ruas, selecionam nas redações as melhores fotos que serão mandadas para os editores que escolhem quais irão ser publicadas. Após essa etapa, elas são encaminhadas para técnicos que, através de programas de computador, “tratam” as fotos. A imagem é mandada para os diagramadores que montam - a partir da publicidade, dos textos e das fotos - as páginas do jornal.
Para se ter uma melhor noção de como sairá a página do jornal, os editores, diagramadores, redatores e editores têm a possibilidade de dispor dos chamados “prints”. Estes são papéis semelhantes ao tamanho original do jornal, que permitem melhor visualização do que aquela vista pela tela de computador. Erros são mais facilmente identificáveis desta forma.
Cada editoria tem seu próprio ritmo e fecha a matéria em horários diferentes. Principalmente os suplementos como a Revista da TV, a Revista, Boa Viagem, Morar Bem, entre outros, têm um horário diferente para imprimir no parque gráfico de “O Globo”, e até mesmo, dia. O jornal de domingo é o jornal mais importante. Começa a ser planejado na segunda feira. Os demais suplementos também têm reuniões de projeto de pauta e de consolidação em horários e dias diferentes. O planejamento e produção dos suplementos são mais elaborados, pois muitos são semanais, e suas notícias, em grande maioria, são frias.
É normal surgir novos assuntos ao longo do dia. O trabalho de um jornalista é bem corrido e dinâmico, “temperado” com o fator imprecisão. Ele tem que correr contra o tempo para escolher as principais notícias do dia. Ou pode ocorrer de o problema não estar no excesso de notícia, e sim, na falta. Com isso, seu maior desafio é criar algo que possa servir como matéria.
Às cinco da tarde ocorre a reunião de consolidação. Antes disso, os jornalistas de cada editoria se reúnem para decidir quais serão de fato as notícias que irão publicar no jornal - o que realmente rendeu. O editor-executivo dará as decisões finais para fechar o jornal e as manchetes do dia.
A não ser que surja uma notícia nova nesse meio tempo, das 17 as 22:15 é o prazo que as editorias têm para fechar as matérias. Conforme o jornal vai sendo fechado, ele passa pela etapa final de produção denominada digitalização. Nesta fase são inseridos os anúncios. Depois o projeto é mandado para a transmissão que envia para o parque gráfico.
A primeira edição, que também é chamada de “primeiro clichê”, é rodada às 22:15. Se surgir uma notícia nova ou se tiver algum erro ortográfico escabroso nas matérias, é rodado o “segundo clichê”. Caso tenha essa segunda edição, a primeira é normalmente distribuída em outros estados. Há ainda a possibilidade de um “terceiro clichê”.
Conforme vai se aproximando do horário de fechamento do jornal, os ânimos começam a esquentar. É sensível uma atmosfera de estresse que paira pelo ar. O tom de voz aumenta e é normal ouvir “vamos lá pessoal, temos que fechar isso”! As editorias Rio, nacional e economia costumam as últimas a fechar.
Lá no parque gráfico, a informação vira filme que é transformada em chapa de alumínio e mandada para a rotativa. Nesta máquina, ao ser passado o papel de jornal em branco, através da tinta a informação é impressa no jornal. Após uma secagem quase que instantânea, o jornal já está pronto para ser distribuído nas bancas, comprado e lido.

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