quinta-feira, 12 de julho de 2012

Entrevista com Junior Cigano dos Santos


Por Osni Ribeiro Mello


Osni R. Mello (ORM) - Como foi a tua infância e juventude em Caçador?

Junior Cigano (JC) - A minha infância foi difícil, acho que como a realidade da maioria dos brasileiros. Como a maioria das pessoas eu tive uma infância difícil, pobre, mas de grande aprendizado, porque a minha mãe sempre esteve presente, me incentivando ao estudo, a minha religião, e tudo mais. E isso foi importante. Eu trago grandes ensinamentos não só da minha infância, mas da juventude, quando comecei a trabalhar muito cedo, com dez anos, vendendo picolé nas ruas para ganhar meu próprio dinheiro. Sempre me virei como pessoa e foi um grande aprendizado, me ensinou tanto que hoje eu sei dar valor ao que eu tenho e ao que estou conquistando.



ORM - Em que momento a luta, o esporte que você pratica hoje, entrou na tua vida?

JC - Eu nunca imaginei, alias nem sonhava ser lutador, porque era uma coisa diferente para realidade que vivia naquela época. Mas depois de ter ido embora de Caçador e ter ficado um tempo em Salvador (BA) eu estava meio gordinho e resolvi treinar. Foi então, que meio por acaso o esporte entrou na minha vida, o MMA entrou na minha vida. Eu nunca fui bom de futebol e nunca fui bom de outros esportes, mas na luta eu acabei me encontrando. Como aprendia muito rápido - sempre aprendi tudo muito rápido - me dediquei e um ano e meio depois de começar a treinar (abril de 2005) eu estava fazendo a minha estreia como profissional e vencendo por nocaute um lutador que já tinha sete lutas (Jailson Silva Santos em 16 de julho de 2006). Naquele momento eu descobri que era isso que eu queria para minha vida.


ORM - Qual o momento da tua vida foi determinante no sucesso como pessoa e no esporte?

JC - Acho que todos os momentos da minha vida foram determinantes, porque a gente não vive de momentos, a gente tem que ter um caminho a seguir e eu sempre escolhi um caminho bom. Nunca fui um cara de procurar caminhos ruins como a droga, cigarro e bebidas. Eu até bebia um pouco antes de começar a treinar, mas no momento que descobri que era aquilo que eu queria para minha vida, após a primeira luta que venci, eu deixei de beber e deixei de usar qualquer tipo de bebida alcoólica e com drogas e cigarro eu nunca tive envolvimento. E isso foi um dos fatores determinantes da minha saúde, da minha força como lutador, porque eu cuido muito do meu corpo, cuido de mim mesmo. Todas as escolhas que você faz na vida levam você a um determinado ponto e as escolhas que fiz me trouxeram até aqui. Muitas vezes as escolhas foram difíceis, me levaram a passar alguma dificuldade, mas eu sabia que era o certo pra mim, que era bom pra mim e continuei acreditando nisso.


“Todas as escolhas que você faz na vida levam você a um determinado ponto e as escolhas que fiz na vida me trouxeram até aqui”


ORM - Você poderia me citar um momento difícil da tua trajetória?

JC - Na minha infância eu chegava em casa e encontrava a minha mãe chorando, porque não tinha recebido o pagamento e não tinha dinheiro nem para comprar a comida para gente. Este foi um dos momentos que mais marcou na minha vida. Outro foi quando eu morava sozinho em Salvador e trabalhava 12 horas por dia, como garçom, para ganhar 250 reais por mês, sem folga durante a semana e isso era bastante pesado. Comecei lavando pratos, depois fui passador de carne, mas sempre como ajudante. Foram momentos muito difíceis, mas que me ensinaram a dar valor ao que eu tenho hoje.


ORM - Em que momento você sentiu que podia ser um campeão do UFC?     
   
JC - Eu sempre fui um cara muito confiante e sonhador, sou aquariano. A partir do momento que eu comecei a ter bons resultados eu também comecei a sonhar em um dia ter um grande nome no meio e conquistar a cinturão de campeão do mundo. Então ser o numero um do mundo era o meu sonho e durante a minha carreira de lutador, por mais difícil que fosse, por mais que as pessoas não acreditassem em mim por eu ser jovem no esporte e ter começado tarde, com 21 anos, eu sabia dentro de mim que se acreditasse eu tinha condições conquistar o mundo e hoje isso se tornou realidade.


“A gente escolhe o caminho da vitória e quando escolhe o caminho da vitória tem que correr atrás dos objetivos”


ORM - Você acha que suas conquistas vieram rápido?


JC - Acho que foi rápido. Normalmente quem tem resultados no esporte são pessoas que treinam desde a infância ou da juventude e já tem o corpo preparado para isso, já é habitual para eles estar treinando, para mim nunca foi. Eu sempre fui muito forte, mas é um treinamento totalmente diferente, então meu corpo teve que se adaptar a isso, sofri bastante, apanhei demais, mas tive muita determinação segui o meu caminho e continuei acreditando. Primeiro você tem que acreditar em você mesmo e quando sentir que é aquilo que quer para sua vida correr atrás, passar por todas as dificuldade e obstáculos. Eu fiz isso. De quase não ganhar nada para lutar, dinheiro que mal dava para me manter, momento da minha vida que contei com a ajuda da Vilsana (esposa) - uma pessoa que sempre esteve ao meu lado - foi importante ter acreditado e seguido neste caminho, sabendo que eu tinha muito para mostrar como lutador. As coisas foram acontecendo aos poucos, meus sonhos foram crescendo e chegando mais próximo do meu sonho que era me tornar campeão do mudo e ter aquele cinturão. Conforme as coisas aconteciam eu ficava mais feliz e essa felicidade me fazia mais forte e mais motivado a continuar perseguindo meu objetivo.


ORM - Naquele momento que antes de iniciar a luta, no que o lutador Cigano pensa?

JC - Penso na minha estratégia e esqueço tudo foram do octógono. Penso na minha estratégia e no meu objetivo que é vencer. Eu não quero machucar ninguém, não quero o mal de ninguém, sou colega do meu adversário, mas eu quero vencer porque trabalho duro em busca da vitória. Escolhi o caminho da vitória e graças a deus estou vivendo o caminho da vitória, mas nada além disso passa na minha cabeça. Mantenho o foco na luta e tento pensar na minha estratégia e nos golpes que eu vou usar durante a luta.


ORM - Quais são as vantagens e as desvantagens de ser um campeão mundial?

JC - Desvantagens não existem. Este é o ápice de qualquer lutador e todos almejam ser o campeão do mundo. Eu era assim, hoje graças a Deus sou o campeão do mundo e meus sonhos aumentaram. Agora quero defender este cinturão, quebrar recordes e manter o título comigo por muito tempo. E tudo que isso trouxe para minha vida as pessoas estão vendo: um cara que saiu aqui de Caçador e de uma família humilde, pobre, está conquistando a mundo. As pessoas me conhecem ao redor do mundo, torcem por mim, gostam de mim e isso é muito gratificante. Quero passar isso adiante, quero servir de inspiração não só para as crianças e adolescentes, mas para todas as pessoas que estão em busca de um objetivo maior, de uma vitória na vida. A gente escolhe o caminho da vitória e quando escolhe o caminho da vitória tem que correr atrás dos objetivos.


ORM - O que o sucesso te trouxe de melhor?

JC - A felicidade e a alegria da minha família, o bem estar da minha família e isso é importante. Quando a gente esta bem quer cuidar da família e eu tenho feito isso. Todo mundo está vivendo um momento bom e as coisas vão melhorar. Tudo é muito recente, mas eu acredito que as coisas vão melhor bastante e saber disso me deixa feliz. O reconhecimento também é bom. O reconhecimento dos fãs, da mídia. Quando a gente trabalha duro, quer ser reconhecido por aquilo. Quando a gente dá o melhor da gente para alguma coisa e as pessoas reconhecem é muito gratificante e honroso para mim.  
           

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